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De manhã, que medo, que me achasses feia! Acordei, tremendo, deitada…
BARCO NEGRO
- Amália Rodrigues

De manhã, que medo, que me achasses feia!
Acordei, tremendo, deitada n'areia
Mas logo os teus olhos disseram que não,
E o sol penetrou no meu coração.[Bis]

Vi depois, numa rocha, uma cruz,
E o teu barco negro dançava na luz
Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas
Dizem as velhas da praia, que não voltas:

São loucas! São loucas!

Eu sei, meu amor,
Que nem chegaste a partir,
Pois tudo, em meu redor,
Me diz qu'estás sempre comigo.[Bis]

No vento que lança areia nos vidros;
Na água que canta, no fogo mortiço;
No calor do leito, nos bancos vazios;
Dentro do meu peito, estás sempre comigo.

Composição: Caco Velho / David Mourão Ferreira


T.me/PortuguesTotall
youtu.be/bKmCib5YsYo
Cora Coralina está entre os nomes mais populares da poesia brasileira. Sua obra ganha cada vez mais destaque e admiradores, que fazem com que os versos da poeta goiana ganhem projeção e a atenção de estudiosos da palavra.

É comum encontrar textos de Cora Coralina compartilhados nas diversas redes sociais, fato que comprova a atemporalidade de sua poesia.

O nome curioso na verdade é pseudônimo de *Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas.*

Cora nasceu na Cidade de Goiás, então Goiás Velho, no dia 20 de agosto de 1889 e, embora seus primeiros escritos datem de sua adolescência (aos dezesseis anos uma crônica de sua autoria foi publicada pelo jornal Tribuna Espírita, do Rio de Janeiro), a poeta tornou-se conhecida do grande público aos setenta anos de idade.

Quando teve seu primeiro livro publicado pela renomada Editora José Olympio, Cora Coralina remeteu alguns exemplares para diversos escritores, entre eles Carlos Drummond de Andrade, com quem trocaria, durante anos, correspondências.

Foi por intermédio do poeta que a poesia de Cora Coralina ganhou projeção nacional; Aninha deixou de ser apenas uma doceira do interior do Brasil e tornou-se uma importante voz literária.

A velha casa sobre a ponte do Rio Vermelho, lugar onde Cora Coralina viveu os últimos anos de sua vida, foi transformada, após sua morte no ano de 1985, no Museu Cora Coralina, um dos pontos turísticos mais importantes da cidade que em dezembro de 2001 foi reconhecida pelo Unesco como Patrimônio Histórico da Humanidade. O museu guarda preciosos itens, entre eles as correspondências trocadas com o amigo Carlos Drummond de Andrade.
Seguem abaixo alguns poemas de Cora Coralina.
O cântico da Terra
- Cora Coralina

Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.
Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranquila ao teu esforço.
Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.
Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.
A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.
E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranqüilo dormirás.
Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.
Mulher da vida
- Cora Coralina

Mulher da Vida,
Minha irmã.
De todos os tempos.
De todos os povos.
De todas as latitudes.
Ela vem do fundo imemorial das idades
e carrega a carga pesada
dos mais torpes sinônimos,
apelidos e ápodos:
Mulher da zona,
Mulher da rua,
Mulher perdida,
Mulher à toa.
Mulher da vida,
Minha irmã
Aninha e suas pedras
- Cora Coralina

Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede
Mascarados
-Cora Coralina

Saiu o Semeador a semear
Semeou o dia todo
e a noite o apanhou ainda
com as mãos cheias de sementes.
Ele semeava tranquilo
sem pensar na colheita
porque muito tinha colhido
do que outros semearam.
Jovem, seja você esse semeador
Semeia com otimismo
Semeia com idealismo
as sementes vivas
da Paz e da Justiça
2024/09/28 17:26:58
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